Helena Hesayne deixou a carreira de arquiteta
para se dedicar à sua paixão, cuidar de animais maltratados
A libanesa Helena Hesayne costumava trabalhar como arquiteta, mas desistiu de uma carreira promissora para se dedicar à sua paixão – cuidar de animais maltratados.
Não é uma ocupação popular no Líbano, um país que ainda luta para lidar com a lembrança de uma guerra civil. Desemprego, pobreza e estabilidade política são as grandes preocupação da sociedade.
Hesayne, 47, é vice-presidente de um abrigo para 250 animais abandonados e maltratados, na periferia de Beirute, capital do país árabe.
Entre os animais está Burni, um cão que sobreviveu após tentarem queimá-lo; Savana, que foi jogado da janela de um carro e atropelado por outro; e Corra, um lavrador que levou um tiro na cara. O abrigo já chegou a receber um filhote de leão, que vivia em um imóvel abandonado.
“Eu abandonei minha carreira para isso”, conta Hesayne. “Eu só me preocupo com isso. Não há mais natureza no Líbano. Tudo é dinheiro. E os animais... eles me dão tudo.”
A organização dela, Beirut for the Ethical Treatment of Animals (Beta), já cuidou de 1.500 cachorros, gatos e outros animais desde que foi criada, em 2004.
“Começou com mulheres apaixonadas que alimentavam cães e gatos nas ruas. Elas se encontravam perto de um lixão e decidiram juntar forças”, disse a libanesa.
No entanto, a organização corre o risco de perder a sede temporária em um pequeno distrito próximo a Beirute, por causa das reclamações de vizinhos.
“Estamos sendo processadas. Eles nos querem fora daqui”, disse Hesayne. “Agora temos que encontrar outro local. Ninguém quer ter cachorros por perto.”
A ex-arquiteta e uma colega, Sevine Zahran, tentaram fazer lobby junto ao governo para incrementar as leis de proteção animal. O Líbano é um dos poucos países que não assinaram a Convenção de Washington (Cites, na sigla em inglês), que busca assegurar que o comércio de animais e plantas selvagens não ponha em risco a sobrevivência da espécie.
Zahran, voluntária do Beta, chegou a se reunir algumas vezes com autoridades locais, mas saiu dos encontros com a impressão de que eles tinham outras prioridades.
Para ela, “seres humanos são prioridade e animais também são prioridade. Estudos apontam que o abuso de animais está muito relacionado ao abuso de seres humanos”.
O Beta luta para que haja mais educação sobre o abuso de animais. “No Líbano, existem todos os tipos de abuso. O que testemunhamos no dia-a-dia é muito difícil de compartilhar. Eu tento educar, para aumentar a consciência das pessoas”, continua Zahran.
Além disso, a organização iniciou um programa pioneiro com a Oumnia, instituição voltada a crianças doentes e com deficiência, para introduzir cachorros em tratamentos de pacientes jovens. Cães do Beta são levados à sede do Oumnia na tentativa de estimular a independência e confiança das crianças.
Os resultados são estimulantes. Marie-Gabrielle Phares, vice-presidente do Oumnia, afirmou que “algumas crianças não falavam e, com os cachorros, conseguiram gesticular, falar com os outros e jogar. Foi fantástico. Acho que a terapia com cães é ótimo para as crianças”. (Com CNN)
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